7 de nov. de 2013

Tribuna Popular - Possibilidade - Reflexões

A comunidade deseja dizer-se!
 
 
"O que nos falta é a capacidade de traduzir em proposta aquilo que ilumina a nossa inteligência e mobiliza nossos corações: a construção de um novo mundo”
(Herbert de Souza, Betinho)
Todos os cidadãos e cidadãs têm o direito de dizer algo sobre sua cidade. As Câmaras de Vereadores, também chamadas "Casas do Povo”, instaladas em todos os municípios de nosso país, com raras exceções garantem espaços para que a comunidade possa expressar, livremente, os problemas que afligem a sua vida na cidade. Os obstáculos à cidadania e à manifestação popular que as casas legislativas impõem a seu povo não constituem importante contradição da própria democracia?
A cidadania precisa de um lugar de fala e de escuta pública. Ao falar do seu lugar, do seu bairro, da sua realidade, dos seus problemas e de suas conquistas, o povo diz-se a si mesmo. Deste modo, elabora um jeito de viver a cidade e conviver socialmente. Na medida em que os agentes políticos oferecem oportunidades para a população dizer-se, maiores serão as possibilidades de integração social e de resolução dos problemas que envolvem a coletividade.
Vivemos sob o regime da democracia representativa, mas felizmente uma parcela significativa da população vê também as Câmaras de Vereadores como um espaço que, por excelência, deveria acolher as suas demandas, sugestões e reclamações. As Câmaras de Vereadores, por acolherem a pluralidade das diferentes ideologias partidárias, poderiam organizar-se para oportunizar espaços de discussão sobre os destinos de uma cidade. Sem uma interlocução permanente com a população, o legislativo não cumpre com a sua finalidade de representar as demandas e os interesses desta mesma população.
Depois de eleitos, os vereadores e vereadoras passam a representar toda a população de uma cidade. Infelizmente, muitos destes adotam posicionamentos direcionados somente àqueles grupos ou pessoas que tiveram interesse na sua eleição, deixando de cumprir sua missão de homens públicos, eleitos para legislar, acolher e encaminhar as demandas da comunidade, fiscalizar e acompanhar todas as obras públicas executadas pelo poder executivo. Por sua condição de homens públicos, suas atitudes, falas e intervenções públicas sempre são passíveis de questionamento, explicações e responsabilização, por mais que gozem de "imunidade parlamentar”.
A socióloga Maria Alice Canzi Ames, ao comentar sobre a impossibilidade de manifestação pública numa das casas legislativas do Rio Grande do Sul afirma que "as ideias e as opiniões, mesmo sendo divergentes devem circular de forma livre. As pessoas têm direito dentro de um estado democrático de manifestar livremente a sua palavra”. Manifesta ainda que a atitude de barrar manifestações numa Câmara de Vereadores fere os princípios da democracia, que significa a autoridade e a força do povo.
A cidadania preconiza que tenhamos asseguradas possibilidades de todos viverem e dizerem a cidade da qual são parte. O que nos une, na democracia, são os interesses coletivos. Na sua cidade há espaços para o povo dizer-se? Os espaços sociais de sua cidade permitem a construção de uma nova sociedade?
 
Quando espaços de democracia e participação se abrem, que sejam verdadeiros!
 
(Nei Alberto Pies, professor e ativista de direitos humanos).

21 de out. de 2013

Dia dos Professores

Do que move os professores

"Aprender é descobrir aquilo que já sabemos. Fazer é demonstrar que você sabe disso. Ensinar é lembrar aos outros que eles sabem tão bem quanto você. Vocês são todos aprendizes, fazedores e professores." (Richard Bach)

            Somos movidos pelas nossas utopias e paixões. Mas a realidade cotidiana é sempre dura, reveladora e cheia de contradições. A vida daqueles que denominamos mestres, educadores, professores, infelizmente, também anda triste e desmotivada. Sim, logo aqueles e aquelas dos quais a sociedade ainda espera muito (saber, sabor e sabedoria). Pouco valorizados e feridos em sua dignidade, estes resistem bravamente. A escola tornou-se lugar de onde se espera muitas soluções, muitas delas muito além das demandas de ensino-aprendizagem e das competências a partir das quais a mesma se organiza.
            Vivemos tempos em que aqueles que cuidam, não são cuidados. Aqueles que educam, não são valorizados. Aqueles que amam, sofrem com o deboche e o desprezo daqueles que não acreditam mais no amor. E assim, vamos alimentando apatias e desencantos. Somos obras de uma racionalidade que se perdeu. Não sabemos quando, aonde e nem como haveremos de nos reencontrar conosco mesmos e com os outros, para reconstruir novas relações de mundo e de vida.
            Todos aqueles que já tiveram passagens pela escola, sabem quando e como, o professor ou a professora, a partir de sua vivência teórica e empírica, se dispuseram a orientar, motivar ou acolher. Suas sábias atitudes contribuíram no discernimento de decisões importantes em sua existência.
            Por sua vez, os professores não deveriam, mas já se acostumaram. Acostumaram a ganhar baixos salários. Acostumaram a ter de trabalhar sessenta horas semanais para garantir mais dignidade à sua família. Acostumaram aceitar todo o tipo de pressão que a sociedade e os governos exercem sobre seu ofício e sobre a escola. E agora, pasmem, alguns já estão se acostumando com a desesperança, que pode ser facilmente percebida na expressão de seus rostos e de seus olhares. Uma constatação triste, pois sempre foram e são vistos pelos adolescentes e jovens como um alento da esperança.
            Nossos professores e nossas professoras estão doentes e estressados. Cuidaram, encaminharam e salvaram vidas alheias, mas não dedicaram o devido tempo para cuidar de sua própria vida. Como contemporiza a escritora Marina Colasanti, “eu sei que a gente se acostuma, mas não devia. A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. A ser ignorado quando precisava tanto ser visto. E a lutar para ganhar o dinheiro com que paga. E a ganhar menos do que precisa. A gente se acostuma para poupar a vida, que aos poucos se gasta, e que, de tanto acostumar, se perde de si mesma”.
            Apesar de já terem se acostumado com tantas coisas, a maioria dos professores mantém sua missão de semear esperanças. Mas, muitos deles, já pensaram em desistir, mas não conseguiram. “Desistir... eu já pensei seriamente nisso, mas nunca me levei realmente a sério; é que tem mais chão nos meus olhos do que cansaço nas minhas pernas, mais esperança nos meus passos, do que tristeza nos meus ombros, mais estrada no meu coração do que medo na minha cabeça”. (Geraldo Estáquio de Souza).
Ainda bem que os professores e professoras são tomados por uma imensa paixão de viver e de ensinar. E não desistem....

Nei Alberto Pies, professor e militante de direitos humanos.

8 de set. de 2013

Como promover cultura de paz?

Como promover cultura de paz?
“As pessoas não debatem conteúdo, apenas rótulos/Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos/Quero a essência/Minha alma tem pressa”. (Rubem Alves)
A ação de Estado do Rio Grande do Sul RS na PAZ, no Bairro José Alexandre Zachia, em Passo Fundo, RS, realizada neste último dia 05 de setembro de 2013, foi uma importante manifestação pública de como enfrentar e encarar a violência que faz suas maiores vítimas: jovens de até 29 anos. Dado relevante relatado pelo Secretário Estadual de Segurança Pública Airton Michels é de que a maior parte da população carcerária do RS está cumprindo pena nas nossas penitenciárias por algum envolvimento relacionado ao tráfico de drogas. Ações em que o Estado se aproxima da população para oferecer serviços de saúde, recreação e cidadania são importantes, porém insuficientes para sustentar uma estratégia de segurança pública com cidadania. Para além de aproximar a polícia da comunidade, é preciso desenvolver ações sociais que promovam a cidadania e os direitos, permanentemente.
Um dos mais eficientes antídotos no enfrentamento à violência em nosso estado e em nosso país deve conciliar repressão e punição aos delitos com a promoção e acesso a cidadania e à justiça e com oportunidades de trabalho e inserção social dos jovens na sociedade. Em outras palavras, a segurança pública, para além de ser um direito de todos, é uma problemática que precisa ser assumida por todos os entes públicos, pelas lideranças sociais, pelas escolas, pelas entidades que promovem e divulgam os direitos humanos, pelas autoridades políticas de nossa cidade, estado e país. Há muito tempo, ela deixou de ser exclusividade da Polícia, do Ministério Público e do Judiciário.
Nesta perspectiva de prevenção da violência e promoção da cidadania, ainda são muito tímidas e incipientes as iniciativas públicas que verdadeiramente se dispõem a colaborar com a construção de uma cultura de paz, que tenha por base a mediação dos conflitos, o acesso à cidadania e aos direitos, o respeito às diferentes culturas e necessidades, a qualificação social e profissional, a celeridade no atendimento e encaminhamento das denúncias de violação de direitos e atendimento às vítimas da violência.
O poder público, de maneira geral, toma iniciativas que não passam de “bons projetos enquanto são executados”; que não prosperam por falta de compreensão e incidência política e administrativa para que se tornem políticas públicas. Executados em parceria com entidades e comunidade, projetos do Pronasci como o Protejo buscam uma qualificação social e uma proteção aos jovens em vulnerabilidade social. Projetos como Mulheres da Paz articulam a formação e atuação social de mulheres para que possam exercer função de articuladoras sociais de cidadania ou defensoras de direitos humanos. Projetos como Justiça Comunitária formam mediadores e mediadoras de conflitos em bairros com maior vulnerabilidade social. Programas como o Projovem Trabalhador buscam a qualificação profissional para a inserção dos jovens no mercado de trabalho. Mas, no entanto, estes não continuam e não tornam efetivos os avanços da cidadania, da inserção dos jovens no mundo do trabalho e de uma cultura de paz. Está faltando o que para que estas políticas e práticas sociais tenham apoio e continuidade, com vistas ao permanente enfrentamento à violência urbana?
O Bairro José Alexandre Zachia foi atendido pelo também programa RS na Paz por estar enquadrado como um dos Territórios de Paz. Este bairro de nossa cidade, como tantos outros, enquadrados ou não como “Territórios de Paz” terá condições de propiciar uma convivência menos conflituosa e agressiva no dia em que a nossa cidade e o Estado encararem a violência como um problema social, equipando nossas comunidades com estruturas públicas capazes de garantir qualidade no atendimento aos direitos fundamentais de nossa população como a educação, a saúde, a moradia, a cultura, o trabalho. Nossa cidade, estado e país serão melhores quando os direitos humanos e a cidadania não precisarem mais de eventos, mas quando estiverem incorporados na nossa vida e na nossa convivência cotidiana. Lutemos, pois...

Nei Alberto Pies, professor e ativista de direitos humanos.

Ebook Pedagogia do Oprimido - Paulo Freire

>>> Ebook Pedagogia do Oprimido - Paulo Freire

>>> Resenha Livro Pedagogia da Autonomia

26 de ago. de 2013

PASSO FUNDO - 15ª Jornada Nacional de Literatura

Onde se funde literatura

“As pessoas escrevem contra sua própria solidão e a solidão dos demais porque supõem que a literatura transmite conhecimentos, age sobre a linguagem e a conduta de quem a recebe, e nos ajuda a conhecermo-nos melhor, para nos salvarmos juntos”. (Eduardo Galeano, em artigo “Em defesa da palavra”)

Quem de nós não idealiza viver ou representar uma grande história? Uma história de vida que seja capaz de alcançar a imaginação e a liberdade, que nos provocam ânsias sem fim? Que seja impactante para quem escreve e para quem lê a ponto de mudar sentidos de vida e pontos de vista. Estamos falando de histórias lineares e “enquadradas” por supostas utopias, mas estas já perderam o seu lugar.
Muitas vezes imaginei escrever uma história. Outras vezes, constatei a ilusão de querer contar histórias. Outros dias, minha própria história me pareceu insignificante. Quantas noites, embalado pelos meus pensamentos, busquei inspiração em outras histórias para não chorar as minhas próprias tristezas!
Não tenho personagens para as minhas pretensas histórias. Tenho a mim mesmo e me confronto com uma imaginação “pouco aflorada” para colher histórias dos outros e da minha imaginação. Conheço muitas pessoas, poucas histórias. Procuro entender, pelo semblante de muitos, o que poderá estar por trás do que não consigo ver. Queria poder adentrar-me, ou possuir alguns personagens, para compor histórias. Descubro, então, que tenho pouco a me dizer.
Ouvi dizer que, em grande medida, histórias escritas, lidas e adoradas por muitos de nós, são isso mesmo: simples histórias. Vivências, impressões, invenções, criatividade, desafetos, sentimentos, amores, olhares, conflitos, pontos de vista, percepções da vida e do olhar, ressuscitar de sonhos, contagiantes gostos, e liberdade.
Penso histórias como horizontes, na perspectiva das janelas de uma casa. Horizontes, semelhante janelas, têm por missão renovar nossos ambientes. Janelas arrejam e alimentam a utopia, de uma realidade que não existe mais numa casa fechada: (o mofo e as sujeiras, característicos de ambientes fechados, ninguém suporta mais). É preciso alçar voos para além das paredes, dos quadros, das salas de estar, das cozinhas, dos instrumentos e das lides cotidianas de cada um. Fechar janelas ou deixá-las trancadas gera a indiferença, o enigma, a escuridão e o castigo, a morte dos ideais, mas também da grandeza do infinito. Manter as janelas abertas é manter vivas as utopias da envolvente e complexa arte que é viver a vida.
 A literatura dos nossos tempos sugere escrever histórias a partir dos sofrimentos periféricos e esquecidos. Sugere dar voz àqueles e aquelas que se esforçam muito para “aparecer”, em busca de reconhecimento. Sugere histórias mais reais e mais próximas da realidade do leitor. Sugere mostrar um pouco mais da realidade que, não raras vezes, confunde-se com a própria ficção.
Encaremos, pois, os novos desafios do nosso tempo e de uma nova literatura.

Nei Alberto Pies, professor e ativista de direitos humanos.


2 de ago. de 2013

Dos pobres e de solidariedade

Dos pobres e de solidariedade

 


 

Os diferentes aí estão: enfermos, paralíticos, machucados, engordados, magros demais, cegos, inteligentes em excesso, bons demais para aquele cargo, excepcionais, narigudos, barrigudos, joelhudos, de pé grande, de roupas erradas, cheio de espinhas, de mumunha, de malícia ou de baba. Aí estão, doendo e doendo, mas procurando ser, conseguindo ser, sendo muito mais”.(Artur da Távola)

Escrever e pensar a partir dos pobres não gera status social, nem dividendos econômicos. Lutar com eles e por eles gera, sim, reações raivosas e incomoda aqueles que desejam manter privilégios. Aqueles que lutam com e pelos pobres sabem que estes precisam ser defendidos não porque sejam bons ou maus, mas porque são vítimas de um sistema econômico e político de exclusão, que não gera oportunidades em igualdade de condições para todos. Para quem ainda duvida disto, eis o que foi anunciado pela ONU, ainda em 2009: “90 milhões de pessoas devem cair em condição de pobreza extrema até o fim deste ano no mundo por causa da crise econômica mundial”.
 
Difícil crer que as pessoas pobres e excluídas não sejam vítimas; autores é que não os são; não escolheram viver na indignidade. Vítimas necessitam de defesa, ajuda e amparo, para que se lhes resgate a condição de dignidade. Dignidade confunde-se com liberdade, na busca que cada ser humano faz para constituir-se gente. Como disse Cecília Meirelles, “liberdade é uma palavra que o sonho humano alimenta e não há ninguém que não a busque e ninguém que não a entenda”. 
 
Muitos dentre a gente perderam a noção de pertença à humanidade e não cultivam mais valores solidários. São moldados pela ideologia dominante que sugere que “a cada um é concedido conforme o seu empenho, o seu esforço, o seu talento”. Logo, a conclusão de que pobres são pobres porque assim o desejam. Ou que a condição de pobreza é resultado da falta de esforços e de vontade de cada um e cada uma. Outros desejam “enquadrar” os excluídos a partir de dados e estudos estatísticos, supondo que todos respondem do mesmo modo, mesmo nas diferentes adversidades e peculiaridades de vida de cada um. 
 
A inclusão dos pobres na sociedade não é nada natural. Inclusão pressupõe reconhecimento recíproco da nossa condição de seres humanos, com necessidades básicas para viver bem. Exige também reconhecer que todos  são capazes de fazer nossas escolhas e desenvolver nossas habilidades e potencialidades. Supõe também dividir a riqueza e a renda, que resulta do trabalho e da tecnologia produzidos por todos. Significa construir oportunidades em igualdade de condições para todos, indistintamente.
 
O jornalista Cláudio Brito, quando assume interinamente a coluna de Paulo Santana do Zero Hora, dia 10 de julho de 2009, levantou o debate sobre dar ou não esmolas e conclui que “precisamos encontrar formas de organizar a cidadania e a solidariedade dos muitos que ainda se compadecem com o sofrimento alheio dos excluídos. Quem doa esmolas ainda acredita que vidas podem ser recuperadas e salvas.” Talvez seja o caso de nos organizarmos para a prática de verdadeira solidariedade, ao invés de simplesmente dar esmolas.
 
Na democracia, deveríamos dar a todos o mesmo ponto de partida, pois o de chegada pode depender de cada um. “A verdadeira democracia não tolera a existência de excluídos”, disse Herbert de Souza, o Betinho. Só a solidariedade, no seu sentido mais amplo e profundo, será capaz de salvaguardar nossa condição de humanidade. Se “nascemos livres e iguais em dignidade e direitos” como preconiza a Declaração Universal dos Direitos Humanos, temos obrigação de cooperar com os outros, em espírito de fraternidade. Assim, mais humanos nos tornaremos.
 
Nei Alberto Pies, professor e ativista de direitos humanos.

26 de jun. de 2013

O Brasil, de Copa em Copa.

O Brasil, de Copa em Copa.

“Prefiro as vaias da democracia
aos aplausos da ditadura” (Presidenta Dilma Rousseff)

O jogo da final da Copa das Confederações de 2009 ainda serve como uma referência para avaliar o comportamento dos jogadores em campo e dos brasileiros nas ruas, mas também de ambas as seleções e nacionalidades. Faremos uma análise daquela final de copa como um torcedor e cidadão brasileiro, buscando angariar subsídios para a compreensão do momento histórico pelos quais passava e porque passa o Brasil, agora acordado pela multidão de jovens que se manifestam nas ruas.
A expressão “Yes, we can” (sim, nós podemos), foi o mote da campanha que elegeu (e reelegeu) o presidente americano Barack Obama. Esta expressão máxima foi divulgada como inspiração da seleção americana para o jogo da final da Copa das Confederações, no domingo, dia 28 de junho de 2009. Os brasileiros, mesmo sem nunca falar e assumir esta expressão como uma máxima, tem demonstrado, ao longo dos últimos anos, que pode mais com suas habilidades, criatividade, ousadia, principalmente quando se encoraja a demonstrar sua cidadania nas ruas para exigir mudanças que ampliem sua qualidade de vida e seus direitos.
Vejamos a retrospectiva daquele jogo. O primeiro tempo foi absolutamente dominado pela supremacia pragmática do futebol americano. Apesar das tentativas brasileiras jogando em direção à trave do adversário, os americanos é que souberam aproveitar ao máximo as duas únicas oportunidades do jogo, com dois gols. A seleção brasileira jogou apática. A seleção americana jogou soberana. No segundo tempo, as duas seleções mudaram radicalmente suas atitudes em campo. Por um lado, a seleção brasileira emergiu do marasmo e teve atitude altiva de quem almejava jogar para ganhar. A seleção americana, por sua vez, segurou-se para manter o resultado, mas cedeu ao empate e depois ao gol que consagrou o Brasil campeão.
A seleção brasileira de 2009, a exemplo de como age seu povo, jogou o segundo tempo com criatividade, persistência, ousadia e liderança, características próprias de uma nação emergente e com reconhecida capacidade política no cenário internacional. Tinha nos pés de seu maior líder e capitão Lúcio, a referência e a garra para as jogadas. Jogou com espírito de equipe, usando meio e laterais do campo como há tempo a seleção brasileira não ousava jogar. Dunga escalou uma equipe, mas contou novamente com o diferencial de jogadores como Kaká e Luis Fabiano.
A seleção americana, por sua vez, não sustentou o jogo com seu jargão. Não soube reagir diante das investidas dos brasileiros, rumo ao gol, no segundo tempo. Seu jogo pragmático e de resultados rendeu-se ao jogo da criatividade e persistência dos brasileiros. Os jogadores americanos foram incapazes de mudar seu comportamento em campo, dificuldade que também parece estar presente em sua nação, quando esta joga na economia e na política e precisa se recuperar.
Se Roberto Gomes escrevesse hoje seu livro “Crítica da Razão Tupiniquim”, ainda escreveria sobre a não existência de pensadores e filósofos que pensam o Brasil (parece que o Brasil ainda não é suficiente sério para ser pensado), mas certamente concordaria de que o Brasil construiu condições para a sua auto-afirmação: recuperou a credibilidade, joga como uma grande equipe e devolveu ao povo a esperança e a auto-estima. Ademais, amadureceu como nação e é uma prova que a democracia lhe faz muito bem.
Quando os brasileiros jogam com futebol e com cidadania, manifestando-se de forma pacífica, com esperança e com perseverança, podem muito mais. Podem, inclusive, virar o jogo da vergonha. Podem ganhar o placar contra alguns poucos brasileiros que jogam com a corrupção em obras que envolvem dinheiro público. Pode desmascarar o pragmatismo da política para construir uma sociedade mais democrática e mais real. O Brasil tem jeito, acreditem... O Brasil é brasileiro, ao modo de sua gente! O detalhe é que estamos em uma nova Copa e num outro momento histórico. Resta saber como jogaremos, na arena do futebol e da política.

Nei Alberto Pies, professor e ativista em direitos humanos

25 de jun. de 2013

Os jovens se acordaram

Os jovens se acordaram

"A rebeldia nos jovens não é um crime. Pelo contrário: é o fogo da alma que se recusa a conformar-se, que está insatisfeito com o status quo, que proclama querer mudar o mundo e está frustrado por não saber como"(http://www.chabad.org.br)


Controlar ou emancipar a juventude é um dos dilemas de nossos tempos. Como escreveu Moisés Mendes, em artigo Esses jovens: “O jovem com vontades é uma invenção recente da humanidade. E o jovem capaz de influenciar os outros com suas vontades é uma invenção com pouco mais de 40 anos”. (ZH 13/11/11) Ao longo dos tempos, os jovens resistem e mantém acesa a ideia de mudar o mundo. Desejam, profundamente, que ideais e mundo sejam uma nota só. Seus sonhos projetam ideias em teimosia. Eles têm consciência que precisam controlar o seu “fogo ardente”, mas desejariam que este controle fosse deles, não daqueles que representam qualquer autoridade (pais, professores, psicólogos, legisladores, juízes, polícia). Rejeitam serem pensados pelos outros.

Os jovens sempre gostaram de desafiar os adultos, embora nunca tenham dispensado o apoio sincero e franco, a escuta compreensiva e a orientação bem intencionada dos mais velhos. A novidade de agora é que se apoderaram, como antes nunca visto na história, de uma poderosa ferramenta de comunicação e interação: a internet e as redes sociais. Parece, no entanto, que sua fragilidade está no fato de que ainda não terem vislumbrado uma filosofia capaz de dar envergadura para sustentar as causas de sua rebeldia. Faltam-lhes  frases,  bordões; falta-lhes filosofia.

O inconformismo que caracteriza os jovens é a força renovadora que move o mundo, mas também algo que incomoda os já acomodados. Acomodados, despreparados ou desconhecendo a realidade do universo juvenil, muitos desqualificam a juventude, vendo-a como um incômodo ou como uma fase de passageira rebeldia. Ao invés de emancipar, desejam controlar, dominar, moralizar. A rebeldia é o sinal de que a juventude continua sadia, cumprindo com o seu papel de provocadora de mudanças. A rebeldia, aos olhos da filosofia, é atitude de quem quer ser sujeito de sua história, não seu coadjuvante. A filosofia, como o inconformismo, motiva cada um na busca de seus próprios caminhos. Se os jovens mantiverem senso de direção, terão o poder de mover mundos.

O filósofo Sócrates, na Grécia Antiga, acreditando na emancipação humana, desenvolveu a maiêutica. Concebeu o papel dos sábios a um trabalho de parteira (que ajudam a dar a luz). Ele acreditava que a verdade e o conhecimento estão com cada um e cada uma de nós, e cada indivíduo pode descobrir as razões e verdades que motivam seu viver. Não por acaso, fora considerado um incômodo para Atenas. Uma das razões de sua condenação à morte foi insuflar a juventude a pensar por sua conta.

O fato é que os jovens de hoje vivem o seu tempo a partir de suas percepções, vivências e leituras. Seremos capazes de compreendê-los em nosso momento histórico? Teremos disposição para o diálogo e a escuta, buscando entender os desejos, sonhos, medos e angústias que os movem? 

Vale a pena pensar que filosofia e rebeldia desencadeiam atitudes altivas e saudáveis, próprios daqueles que decidem pensar e, agora, ocupar as ruas de nossas cidades. Jovens e adultos, no entanto, precisam discernir que causas valem suas vidas. A violência e a agressão, em forma de rebeldia, não podem ser toleradas. Mas, acima de tudo, a opção é da sociedade: apostar e empenhar-se na emancipação e inclusão da juventude ou considerá-la como constante ameaça contra a ordem social. Cada opção, com seu preço. 

Nei Alberto Pies, professor e ativista de direitos humanos.

18 de jun. de 2013

De Educação e Formação Continuadas

De educação e formação continuadas

"Se a educação sozinha não transforma o mundo, sem ela, tampouco, a sociedade muda" (Educador Paulo Freire) 

Os gestores da educação possuem grandes desafios para elevar a qualidade da educação básica. Na condição de professor de uma rede municipal e rede estadual de ensino, com modesta experiência de sala de aula, ousamos “palpitar” sobre aspectos que consideramos fundamentais para alavancar uma educação de qualidade. Os desafios para uma boa gestão em educação precisam levar conta aspectos estruturais, funcionais e pedagógicos. Precisam incorporar, sobretudo, a ideia de que a educação está em permanente mudança, por isso exige um grande cuidado com a formação continuada dos profissionais da educação.
Muito se fala e se discute a respeito do papel da educação no desenvolvimento cultural e econômico de uma nação. Se é verdade que a “educação precisa de respostas”, tão verdadeiro é que as mudanças que esperamos a partir da educação não se farão sozinhas. Mudanças de postura, comportamento, inovação e criatividade virão quando forem acompanhadas de outras políticas públicas capazes de elevar a condição social de nossa gente e das condições objetivas para fazermos uma educação de qualidade. Neste sentido, é impossível afirmar de que “tudo passa pela educação”, embora, sem ela, nenhuma mudança terá condições de acontecer. Nenhuma mudança virá abruptamente, por isso mesmo que educação e formação precisam incorporar a ideia da "permanente continuidade", mas sempre em consonância com a realidade objetiva em que vivem as famílias e as crianças, jovens e adolescentes com os quais trabalhamos.
A criatividade, a inovação e a ousadia sempre foram bases para os grandes avanços da humanidade. Mas antes os gestores precisam conhecer e reconhecer a realidade de sua rede de ensino, as expectativas da comunidade e os “pensamentos” que movem os seus professores. Após este reconhecimento, devem traçar metas e “marcas” que desejam imprimir na sua gestão. As marcas gerarão a identidade do trabalho político e pedagógico de cada rede de ensino.
Os aspectos estruturais envolvem o cuidado, a preservação e o “embelezamento físico” dos prédios e salas de aula. Os ambientes escolares precisam uma boa pintura, uma boa organização e distribuição de espaços, um ambiente agradável e aconchegante, um mobiliário bom e adequado. Nossos estudantes merecem e precisam sentir-se bem, e bem acomodados, para o pleno envolvimento com as aprendizagens. Os aspectos funcionais referem-se ao bom e respeitoso tratamento que será dispensado aos funcionários e professores das escolas. O trabalho árduo e cotidiano dos professores precisa ser reconhecido em sua dignidade humana e profissional.
Os aspectos pedagógicos, tão importantes quanto os demais, devem levar em conta a experiência acumulada de cada educandário e de cada professor e professora, apresentando aos mesmos novos desafios para dinamizar as aprendizagens. A formação continuada dos professores precisa ser combinada e dialogada, antes de ser executada, para que ocorra verdadeiro envolvimento. Deve, ainda, produzir a sistematização e discussão das práticas pedagógicas. Esta poderá sim produzir novas posturas e compreensões para intervenção em sala de aula.
As respostas que se espera da educação nunca estarão plenamente definidas. O que sabemos é que a educação que levar em conta os desejos da comunidade, dos professores e dos alunos corre sério risco de colaborar para o aperfeiçoamento de habilidades, atitudes e conhecimentos que farão diferença para o futuro do Brasil. Ademais, nossa educação precisa colaborar para o exercício e a prática da cidadania, esta sim, capaz de operar as grandes mudanças de que o nosso país precisa. Nossas escolas devem ser “o primeiro e maior lugar de vivência de direitos”. Nossas escolas devem ser também permanentes espaços de estudos, debates e discussões com  aqueles e aquelas que ensinam e também aprendem. Os gestores da educação que entenderem isto farão uma grande diferença na educação brasileira.
Nei Alberto Pies, professor e ativista de direitos humanos.

28 de mai. de 2013

Dos meandros da Ação Politica

Dos meandros da ação política
Não somos anjos em voo vindos do céu,
mas pessoas comuns que amam de verdade.
Pessoas que querem um mundo mais verdadeiro,
pe“ssoas que unidas o mudarão”.
(Gente, de A. Valsiglio/Cheope/Marati).

            Em uma recente sessão ordinária ocorrida na Câmara de Vereadores de Passo Fundo, ocorreu uma discussão inusitada sobre como fazer política entre os Nobres Edis: por consciência ou por demagogia. Este tema nos oportuniza uma importante reflexão sobre a ação política, da qual todos e todas fazemos parte.
Muitos de nós gostaríamos que os políticos fossem anjos. Se assim fosse, estaríamos imunizados de todas as situações e oportunidades que não promovem o bem comum e a prática da bondade. Mas os políticos, assim como cada um de nós, não são anjos e sim humanos, também não perfeitos. A política não é um espaço para a ação de anjos, mas espaço de disputa dos mais diferentes interesses que estão em jogo na sociedade. A disputa destes interesses é legítima, desde que os mesmos estejam sempre bem explicitados, para que todos saibam o que move os políticos quando se propõem a representar os interesses da população.
As contradições no exercício do poder estão sempre presentes nos movimentos que operam a política. Os políticos posicionam-se a partir das conjunturas e contextos de cada momento, das articulações e negociações que são possíveis para aprovar os projetos que estão em pauta, das forças sociais que estão mobilizadas em cada momento histórico. É natural que joguem com seus interesses pessoais, mas é inaceitável, numa democracia, que estes se sobreponham aos interesses coletivos.
As agremiações partidárias (partidos) expressam e materializam os projetos de sociedade que estão em disputa nas cidades de nosso país. Estes projetos traduzem-se em propostas concretas de como governar, de como construir as políticas públicas, de como distribuir a renda, de como construir oportunidades de desenvolvimento das nossas cidades e da própria nação. Os interesses pessoais e a defesa de projetos coletivos andam “sempre juntos e misturados” e traduzem-se em diferentes conseqüências. É preciso, no entanto, sempre contemporizar as posições e atitudes pessoais dos políticos com os projetos que os mesmos representam, observadas as circunstâncias e as intencionalidades em que ambas acontecem.
Os nossos políticos não representam a si próprios, mas representam interesses em disputa na sociedade. Talvez fosse mesmo melhor sermos governados por anjos, seres sobrenaturais imunes a qualquer interesse mundano. Como não é possível, cabe a cada um e cada uma avaliar o projeto com o qual cada um dos nossos representantes está comprometido. O compromisso com a vida humana, com a sociedade, com o bem comum e com as virtudes é o bem maior que deve ser resguardado, pelos políticos e pela gente.

Nei Alberto Pies, professor e ativista de direitos humanos.

25 de abr. de 2013

A Participação das Mulheres - Importancia...


Mulheres perigosas, em movimento!
O conhecimento, a valorização e a participação das Mulheres na vida social das comunidades têm-se revelado como importantes ferramentas da emancipação feminina. Construir as condições para este empoderamento de cidadania continua sendo um grande desafio para a nossa sociedade, particularmente na nossa querida cidade Passo Fundo. Mulheres empodeiradas de conhecimento, cidadania e direitos, tornam-se sujeitas de direitos sempre "perigosas" numa sociedade que ainda se assume machista, hipócrita e hierarquizada; que continua afirmando o protagonismo dos homens em detrimento do ativismo das mulheres.

Mulheres que ousam sair de seu ambiente privado (família-casa) para ocupar espaços públicos de vivência de cidadania, parece que precisam ser combatidas. Aos olhos das autoridades constituídas, "o que incomoda é que as Mulheres saem de seus bairros para mobilizar-se e reivindicar direitos e justiça". Se ficassem em seus bairros, talvez não incomodassem tanto. Não seriam vistas, lembradas e nem reconhecidas. O seu reconhecimento no centro da cidade e no centro da esfera dos poderes parece atrapalhar planos de quem desejaria deixar tudo como está.

Mulheres da Paz são hoje mulheres distintas. Sentem-se responsáveis por seus direitos e pelos direitos dos outros. Aprenderam a mais sábia lição de que "quanto mais se compartilha a vida, mais a vida se multiplica”. Que quanto mais orientação aos direitos, mais a cidadania se amplia. Que quanto mais a gente colabora para construir uma cultura de paz e de segurança pública, maiores são as oportunidades de felicidade para todos. Mulheres da Paz descobriram o quanto é bom estar com os outros e outras. Aprenderam que felicidade é uma construção social, que acontece na relação de uns com os outros.

Testemunhar este aprendizado e perceber que o trabalho social e o reconhecimento das mulheres como agentes de uma cultura de paz e de direitos humanos nas comunidades pode estar chegando ao fim, nos deixa preocupados, mas ainda mais atentos quanto aos rumos das políticas locais de proteção e promoção dos direitos para as mulheres de nossa cidade. Compreendemos, é claro, que nenhum projeto consegue abarcar todas as dimensões humanas que o mesmo desperta.  Ocorre que o Projeto Mulheres da Paz faz um grande bem à cidade, às Mulheres da Paz envolvidas, às comunidades, às escolas e, principalmente, faz um bem a todas as mulheres de nossa cidade.
Desperta querida Passo Fundo porque a garra e a sensibilidade feminina não permitirão que a insensatez machista vença o desejo das Mulheres da Paz, porque “a vida não se faz por linhas retas e definidas”. As Mulheres da Paz embarcaram num trem e agora sentem dificuldades de desembarcar, em paradas não decididas por elas. As Mulheres da Paz não se enganaram a si mesmas; apenas reclamam continuidade para seu trabalho porque foram reconhecidas como mulheres, mães, líderes e agora, também, cidadãs de nossa cidade.
Nei Alberto Pies, professor e ativista de direitos humanos.

23 de abr. de 2013

LIVROS... E FILMES PEDAGÓGICOS...

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http://webeduc.mec.gov.br/ - Conteudos Educacionais
 
http://pt.wikipedia.org/wiki/Página_principal - Importantissima ( Verdadeiro dicionário...)
 
www.bn.br/bndigital - Biblioteca Nacional do Brasil, com um dos maiores acervos digitais mundiais;
 
www.obrasraras.usp.br - Biblioteca Digital de Obras Raras e Especiais de São Paulo.
 
www.dominiopublico.gov.br - Portal criado pelo Ministério da Educação, tem 122.543 arquivos;
 
www.bibvirt.futuro.usp.br - A Biblioteca Virtual do Estudante de Lingua Portuguesa;
 
http://purt.pt - Acervo digital da Biblioteca Nacional de Portugal, especializada em Obras Raras;
 
www.worlddigitallibrary.org - Lançado em 2007, como protótipo de Biblioteca Mundial Digital, acessada em seis linguas oficiais;
 
www.europeana.eu - Biblioteca Digital da União Europeia. Tem proposta de reunir todo o acervo das principais instituições culturais da Europa.
 
http://bu.ufsc.br/ - Sites de Bibliotecas eletrônicas para busca de livros, textos, dissertações, teses...etc
 
www.brasiliana.usp.br - 3 mil documentos ( livros, imagens, periódicos...f) para download 

16 de abr. de 2013

De religiões, natureza e mundo


De religiões, natureza e mundo

O objetivo das religiões ou tradições religiosas é possibilitar ao ser humano a construção de um sentido de vida
  
Nei Alberto Pies
  
"Deus é Amor. Para nos ensinar a amar, ele inspirou o aparecimento das religiões. Deus mesmo não tem religião, mas pode ser encontrado através de todas elas" (Frei Betto)

O objetivo das religiões ou tradições religiosas é possibilitar ao ser humano a construção de um sentido de vida. O Ensino Religioso trabalha o diálogo inter-religioso, com o objetivo de conhecer e compreender o conhecimento historicamente acumulado pelas diferentes tradições religiosas. Quando este conhecimento é estudado e aprendido, quebram-se muitos dos nossos preconceitos. A gente aumenta as possibilidades de compreensão da religiosidade dos outros quando conhecemos os fundamentos e razões de sua religiosidade.
É possível dizer que não há como trabalhar o Ensino Religioso nas escolas sem falar da dimensão do amor, um dos valores mais sagrados e exaltados pelas religiões. O amor é compreendido na dimensão do cuidado: consigo mesmo, com os outros e com o planeta (demais seres vivos). O amor, valor universal pregado pelas religiões, é a base da preservação da vida e pilar na busca da felicidade e dignidade humanas. Propõe, ainda, a superação do individualismo exacerbado.
Se existem em torno de 65 mil religiões no mundo e, aproximadamente, 5 mil diferentes denominações religiosas no Brasil, é porque em nosso momento histórico vivemos carentes de espiritualidade e de respostas existenciais. Estamos falando de um mundo que evoluiu extraordinariamente na compreensão dos fenômenos da natureza e na produção de altas tecnologias que buscam facilitar a vida dos seres humanos, mas este mesmo mundo não foi capaz de possibilitar respostas que levem à plena felicidade e realização do ser humano.
Nosso mundo é feito de grandes contradições. Ao mesmo tempo em que festejamos os avanços tecnológicos na produção de alimentos, por exemplo, ainda há muita fome no mundo e no Brasil. Enquanto nosso PIB cresce, permanece a concentração de nossa renda.
Enquanto ainda ocorre o abandono do campo, acontece a ocupação desordenada e perigosa nas periferias das grandes cidades. Enquanto buscamos paz, ainda muitos promovem a guerra em nome de seus interesses mesquinhos e individualistas. Enquanto nos orgulhamos com projetos de irrigação, poluímos nossas fontes de água potável, indispensáveis para a nossa sobrevivência. Tudo isto porque nos orientamos pelos valores individualistas e egoístas, que não nos permitem ocupar a terra e o planeta de forma racional e sustentável. Tudo isto porque produzimos tecnologias avançadas com a intenção de tão somente alimentarmos a ideologia de nosso consumo, ideologia esta que tem sido a base de nosso padrão de convivência e civilização.
É impressionante como já temos muitas informações sobre como deveríamos agir diante da vida e do planeta. O que temos como informação, deve agora traduzir-se em conhecimento. Este é o papel da escola e da educação: dar sentido útil e prático àquilo que todos nós já sabemos e aprendemos sobre a sustentabilidade, o meio ambiente, o bem-estar social, a biodiversidade, os demais seres vivos.
Há que se reinventar nosso modo de viver e agir no mundo. Fala-se de uma Ética do Cuidado, onde as novas relações, hábitos e a mudança de nossas mentalidades façam a escolha de preservar a vida. É chegada a hora da evolução de nossa consciência. As futuras e a atual geração têm de ser beneficiadas por esta escolha. As religiões podem e devem nos orientar para que, em vida, possamos usufruir das melhores condições de vida e dignidade, em harmonia com o nosso ambiente.
Comece você mesmo, agora, a tomar pequenas atitudes que resultem na preservação da vida no planeta. Você faz a diferença! E esta diferença deve amenizar o impacto da ocupação que você faz da natureza, a partir dos seus recursos naturais. Não esqueça que as crenças, a vida dos seres vivos e as boas atitudes são o que de mais sagrado podemos dispor para o mundo.

Nei Alberto Pies é professor e ativista de direitos humanos. 

Dia Mundial da Voz - A Importância da Comunicão


Falar é viver
“A quem mais amamos, menos sabemos falar” (Provérbio inglês)
Falar é muito importante, por isso mesmo 16 de abril foi instituído como Dia Mundial da Voz. A voz é a nossa primeira e mais importante ferramenta de comunicação. Por isso mesmo, todos deveriam zelar  muito por sua voz, mas também podem ajudar a outros tantos que, por algum problema de fluência, são discriminados pela sua forma de comunicar. 

Todo tipo e forma de discriminação, além de ser um problema pessoal de quem os sofre, é também um problema social. A gagueira, como outros tantos limites humanos, deixa marcas e imprime jeitos de resistir para sobreviver socialmente. Como eu, pelo menos 1.700.000 pessoas em todo o nosso país apresenta algum grau de gagueira na sua comunicação, conforme dados do Instituto Brasileiro de Fluência.
A fala é o meio mais eficaz e mais utilizado para a nossa comunicação e interação social, porém não a única. Esta é a maior descoberta para alcançarmos reconhecimento social, através da comunicação. Se não falamos fluentemente ou temos algum grau de timidez, arranjamos jeitos de ser reconhecidos e valorizados socialmente por alguma outra habilidade ou virtude. Se não somos “experts” na fala, podemos ser bons na escrita, no canto, na representação, no estudo, na convivência ou nas relações. A qualidade da nossa comunicação depende da interação de todos, inclusive do apoio e compreensão que temos de dar àqueles que sofrem para se comunicar.
O ser humano é especialista na arte de compensar. Sem compensar não sobreviveria, porque se não é possível ser bom em tudo, é necessário ser bom e útil em alguma coisa. Por isso a gente se faz “agarrando-se” ao que tem de bom, àquilo que tem facilidade e àquilo que nos renda reconhecimento dos outros. A gente inventa e re-inventa jeitos e trejeitos para ser querido, amado e promovido pelos outros. O reconhecimento social é uma das maiores necessidades humanas, pois ninguém sobrevive se não comprovar para si mesmo o quanto é útil, importante, querido e estimado pelos outros.
O resgate da auto-estima e a auto-aceitação são preponderantes para a cura ou convivência com a gagueira. A gagueira é influenciada por fatores neurobiológicos ou emocionais. Conhecer-se, estudar o seu problema, procurar auxílio e terapias, aumenta as possibilidades de conviver socialmente, sem maiores traumas. É fundamental, ainda, assumir publicamente os limites da fala e da comunicação sempre que se puder. Assumir os limites da fala propicia discernimento e tranqüilidade interior para lidar com os desafios de se comunicar melhor. Quem fala se liberta!
Falar é a forma mais concreta de nos apresentar ao mundo. Por isso mesmo, falar pressupõe primeiro aceitar-se como se é para depois buscar o reconhecimento junto aos outros. A felicidade de “seres humanos falantes” alicerça-se tanto nos fracassos e limites como nos êxitos e nas conquistas, pessoais e coletivos. Uma boa convivência social pressupõe a aceitação de todos os limites humanos e a superação de todas as formas de discriminação.
Nei Alberto Pies, professor e ativista de direitos humanos.

7 de abr. de 2013

Educação: De uma Escola Aberta


De uma Escola Aberta

“Os protagonistas aparecem e se esvaecem para seguir vivendo, história atrás de história, em outros personagens, que lhes dão continuidade. Tecidos pelo fio do tempo, eles são o tempo que fala: são bocas do tempo” (Eduardo Galeano, em De pernas pro ar – A escola do mundo ao avesso, LPM)


A nossa cidade ainda mantém o privilégio de manter uma Escola Aberta. Uma escola aberta para uma prática pedagógica que promove, fundamentalmente, a inclusão através da apropriação do conhecimento, com interação social. E que tem por filosofia ser uma “escola questionadora e transformadora das práticas sociais, que garanta o exercício dos direitos da criança e do adolescente, oportunizando meios para a construção do conhecimento e exercício da cidadania”.  Quais razões ainda justificam a existência e não a sua extinção?

O surgimento da Escola Aberta, hoje Escola Estadual de Ensino Fundamental de Passo Fundo, remete a um determinado momento histórico. No ano de 1993, cria-se uma Comissão Interinstitucional composta pela Coordenadoria Regional de Educação, Fundação de Bem-estar do Menor, Secretaria Municipal de Educação, Sexta Coordenadoria Regional de Saúde, Juizado de Menores, Câmara de Vereadores e representantes de associações de bairros. Buscava-se, à época, construir uma escola e um currículo que tivesse por objetivos promover “os menores desassistidos pela escola regular” para “uma condição de se educar, ser respeitados, poder criar, escolher, decidir e sonhar”. Afirmava-se a intenção de não postular uma nova escola, mas recriar a própria escola numa dimensão social mais viva.

Desde então, com maior ou menor atenção e apoio dos gestores educacionais, a escola vem cumprindo, heroicamente, a missão de acolher e trabalhar com crianças e adolescentes que não tem encontrado suficiente acolhida e inclusão na escola regular, a maioria em descompasso de idade e escolaridade. Os educandos participam de aulas regulares, pela manhã, e oficinas, pela parte da tarde. “Para além da formação básica, as oficinas buscam incentivar e propiciar uma formação para o trabalho e a valorização da vida, permitindo também uma maior integração e vivência em grupo que leve os adolescentes a serem agentes de transformação junto à família e seu meio social mais amplo” (Doc. Proposta para estruturação e implantação, janeiro 1993)
Como em toda escola pública, a direção e o corpo docente da Escola Aberta vem lutando bravamente para manter as melhores condições do espaço físico, do trabalho pedagógico e do processo de ensino-aprendizagem. Mas a esta escola agrega-se uma função mais do que educativa: a dimensão da humanização, da convivência social, da construção dos sujeitos de direitos, da motivação para estudar. E para que possa exercer sua dimensão social, precisa ser tratada com mais prioridade. Precisa ter mais apoio, para um trabalho multidisciplinar. Precisa ser reconhecida pela sociedade por seu trabalho de acolhimento, educação, inclusão e cidadania. Precisa de um olhar diferenciado, que permita que se faça a diferença.

Estamos, hoje, em outro momento histórico. Reconhecemos o avanço das nossas escolas na inclusão de crianças e adolescentes, mas ainda existem muitas delas não apropriadamente incluídas nas dinâmicas do cotidiano das escolas regulares. A Escola Aberta justifica-se hoje por ser um espaço educativo capaz de atender, acolher e educar crianças e adolescentes que não tem sido compreendidos e entendidos em escolas regulares. A escola procura fundir arte-cultura-linguagem-cidadania-convivência-conhecimento.
No meu modesto entendimento, cabe um esforço coletivo da Secretaria Municipal de Educação, da Sétima Coordenadoria Regional da Educação, da Câmara de Vereadores, da Promotoria da Infância e Adolescente, das demais entidades que trabalham com crianças e adolescentes e da Comunidade Escolar envolvida para potencializar as condições para esta escola continue atendendo aqueles que, por direito, precisam de uma escola que os reconheça nas suas mais distintas fragilidades e vulnerabilidades. Extinguir a Escola Aberta significa dizer que a nossa cidade é incapaz de gestar “política e pedagogicamente” um espaço educativo que é, por essência e excelência, um lugar para incluir aqueles que não fomos capazes de incluir no formalismo da nossa educação.
Nei Alberto Pies, professor e ativista de direitos humanos