30 de jun. de 2015

Direitos humanos: tudo a ver com nossa vida!

Direitos humanos: tudo a ver com nossa vida!
"Como seres humanos a nossa grandeza reside não tanto em ser capazes de refazer o mundo… mas em sermos capazes de nos refazermos a nós mesmos”. (Mahatma Gandhi)

O conceito de direitos humanos faz-se historicamente, assumindo diferentes abordagens e perspectivas, gerando diferentes posturas e compreensões. Nasce, contudo, a partir da consciência e necessidade de preservar a vida e tudo o que nela está imbricado. Ao longo dos tempos, o conceito foi sendo construído culturalmente como se os sujeitos destes direitos fossem os outros, aqueles que estão numa situação de extrema indignidade,  e nunca a gente (eu, você e nós). Há, então, a necessidade de compreender melhor o conceito de direitos humanos para que dele nos sintamos parte.

Sob o ponto de vista da compreensão histórica, os direitos humanos constituem-se a partir do reconhecimento, muito antes de constituírem faculdade de um ou de outrem . A defesa da vida, que também defesa da dignidade humana, engloba o que a humanidade, através de muita luta e conquista, reconheceu como direitos humanos. O que vem a ser dignidade humana? É difícil definir, mas entendemos quando ela falta a alguém (como aquilo que define a própria noção de humanidade, enquanto condições mínimas, básicas e elementares para sermos gente). O nosso cotidiano está repleto de infinitas realidades de indignidade, basta ativar a nossa sensibilidade e o nosso olhar.
A mesma cultura que nos fez acreditar que direitos humanos não são os nossos direitos de ser gente (de ser humano) também alimentou a falsa ideia de que, ao afirmamos os direitos das pessoas, estaríamos abrindo mão de seus deveres. Sempre nos foi dito, mesmo que não explicitamente, que temos mais deveres a serem cumpridos do que direitos a serem gozados, usufruídos. Muitas vezes entenderam-se direitos como privilégios de uma classe social, povo ou nação, em detrimento dos demais. Ocorre que, a cada direito que conquistamos, naturalmente, sem dizê-lo, está imbricado um dever. Direitos e deveres chegam juntos, não existem separados como muitos supõem.

Mas como criar identidade com direitos humanos? É preciso considerar a si mesmo e aos outros sujeitos de direitos, de liberdade, de dignidade: ao mesmo tempo diferentes e iguais uns em relação aos outros. O que todos temos em comum é que somos humanos e comungarmos das mesmas necessidades. Todos como eu e você são seres humanos, portadores de algo sagrado e inegociável: a vida da gente. 


Desconhecemos outra maneira de mudar culturalmente conceitos ou ideias senão pela educação. A educação em direitos humanos significa educar para a democracia, oportunizando que os cidadãos tenham noção de seus direitos e deveres e que lutem por eles. É papel da escola, e da educação, contribuir para a compreensão do mundo, para uma melhor inserção nele. A cultura de direitos humanos promove condições em que ocorram a tolerância, o diálogo, a cidadania, a diversidade. Deve também permitir a liberdade de organização e luta aos grupos organizados em torno de seus direitos. Deve exigir um Estado protetor e promotor de direitos humanos, e não violador da vivência da cidadania e das liberdades. A consciência, quando transformada em luta (diária, cotidiana, permanente), é quem garantirá a exigibilidade de nossos direitos.

Educação em direitos humanos não é somente um conteúdo a ser ensinado, mas pressupõe, antes de tudo, a vivência de valores e atitudes que cultivem a preservação da vida, das singularidades e das diferenças. Para mudarmos atitudes e conceitos precisamos ser motivados, sensibilizados e estimulados a compreender o ser humano em suas diferentes situações e realidades.
O reconhecimento de nossas diferenças e das múltiplas formas de ser, pensar e agir abrem horizontes para perceber e acolher a necessidade do outro. Eu, você e nós conquistaremos felicidade quando pudermos compartilhar vida plena, na humanidade que reside em cada um e cada uma de nós. Por isso mesmo, direitos humanos sempre tem a ver com a nossa vida.

*Nei Alberto Pies, professor, escritor e ativista de direitos humanos

10 de jun. de 2015

Ciranda da felicidade.

Ciranda da felicidade.

Quando chega dezembro, a tendência das pessoas é tornar mais evidente seu cansaço e stress pelo trabalho e empenho de um ano inteiro. Mas aí chegam também as esperanças renovadas pelas festas de final de Natal e final de ano, emendadas com as férias docentes. Para os professores em Ciranda, chegou também a oportunidade de discutir felicidade, antes mesmo do término das atividades escolares e das grandes festas.
A Ciranda pretendia discutir Para quê ser feliz? A convidada, uma psicóloga chamada Ana Manoela inverteu, desde o início de sua provocação, as perspectivas do senso comum de felicidade.  Começou citando Samuel Becket:  “passa-se a vida esperando que disso resulte uma vida” . Emendou dizendo que vivemos verdadeira ditadura da felicidade e bem estar. Que existem ideais de felicidade, sempre metricamente projetados com metas e objetivos. Que a felicidade geralmente condiciona-se ao SE....  e somente SE... (um evento do futuro). Provocou-nos dizendo que o esforço que a gente faz para ser feliz é, muitas vezes, justamente o que nos deixa tristes e frustrados por não conseguirmos alcançar o que desejaríamos.
A frustração, a palavra NÃO, constituem o indivíduo. Ninguém faz sua vida só recebendo elogios e estímulos. A vida de todos é permeada por constantes questionamentos e críticas. Mas parece que as tristezas, as críticas e as cobranças não servem para nossa realização humana. Mas quem disse que sentir-se triste e infeliz é menos nobre que a felicidade? A crítica me fará muito mal se eu tiver internalizado comigo que sou um fracassado, uma pessoa fraca e infeliz.
A verdadeira felicidade não está condicionada a algo ou alguém, ela sempre é resultado de um processo interno e individual. Dito de outra forma: a felicidade parece nunca estar fora da gente, mas faz sempre parte da gente. Vem de dentro da gente.
O Brasil, segundo recentes pesquisas sobre felicidade, estaria à frente de Alemanha e França, justamente países onde há maior ingestão de medicamentos depressivos. Por que seríamos mais felizes do que pessoas de outros países?
A felicidade na perspectiva da Cirandeira é uma construção pessoal e social. Ninguém é feliz no meio do CAOS. Por isso mesmo, cada um deve descobrir razões pelas quais vale a pena viver e doar a sua vida.
Finalizando sua função provocadora, Ana Manoela surpreendeu ao afirmar que sangue não faz vínculos e não alimenta afeto, necessariamente. Que ninguém tem obrigação de amar alguém, mas que a vida e a felicidade se fazem a partir de vínculos e reciprocidades.
As experiências individuais relatadas serviram felicidade para que nos percebêssemos próximos na busca, mas muito diferentes nos resultados e nas vivências cotidianas deste nosso maior desejo humano. Foi uma Ciranda muito rica, densa e reflexiva, com oportunidades para todo mundo dizer-se!

Nei Alberto Pies, professor, escritor e ativista de direitos humanos.